sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Opinião: CBF trata mal seu produto mais valorizado e cria saia-justa para Tite

Três semifinalistas da Copa do Brasil, que vale R$ 50 milhões, terão desfalques por causa de amistosos da Seleção; erro se repete há anos e clubes já se tornaram cúmplices
A Copa do Brasil vive em recauchutagem. Ganhou de volta os times da Libertadores, foi esticada até dezembro e agora paga R$ 50 milhões ao campeão. Tornou-se obsessão tanto dos clubes mais organizados quanto dos falidos e mal geridos. E até o produto mais valorizado da CBF nos últimos tempos vai ser vítima do aparentemente incorrigível calendário nacional.

Corinthians e Flamengo, Cruzeiro e Palmeiras, começarão a decidir os finalistas no dia 12 de setembro, menos de 24 horas depois da seleção brasileira enfrentar El Salvador, num amistoso em Washington. Dos três, apenas o Verdão não teve nenhum convocado: Fagner, Lucas Paquetá e Dedé estarão na excursão do time de Tite.
Haverá quem sugira esquemas especiais, aviões e até foguetes para levar jogadores diretamente de um estádio para outro, nessa irresponsabilidade que ignora condições físicas e fisiológicas do profissional. A CBF deveria proibir esse modus operandi. Com que autoridade?

Não é mais só incompetência. É descaso total. Entra ano, sai ano, os clubes brasileiros ficam sem suas estrelas. As datas Fifa são marcadas com muita antecedência. Já se sabe, por exemplo, que entre 11 e 19 de novembro de 2019, do ano que vem, atletas estarão cedidos às seleções.

O calendário do futebol brasileiro deste ano foi divulgado em 29 de setembro de 2017. Qualquer clube poderia ter se manifestado: “Opa, tem semifinal de Copa do Brasil um dia depois do término da data Fifa. Não pode ser assim”.

Silêncio...

Vão chorar agora, depois do anúncio da lista. Não adianta. São cúmplices do descaso e da incompetência com que a CBF trata seus torneios.

O Campeonato Brasileiro também não vai parar. Todos os convocados por suas seleções, como o argentino Kannemann, do Grêmio, entre outros, ficarão fora dos clubes entre 3 e 11 de setembro, pelo menos.

Internacional e Flamengo, hoje terceiro e segundo colocados, se enfrentarão no dia 5. No dia 9 haverá Gre-Nal. Um dos principais clássicos do país, dois postulantes ao título. Desfalcados.

A CBF cria, assim, uma saia-justa até para seu técnico. Sobrarão para Tite as reclamações de A ou B pelos seus craques terem sido convocados. Para não criar mais problemas, decidiu chamar apenas um por clube brasileiro.
Não era hora de concessões. Tite inicia um ciclo cheio de questões a esclarecer: quem da Copa do Mundo deveria permanecer? De quem ele precisa nessa fase de transição? Qual o tamanho da renovação do grupo? Dar ao técnico liberdade para escolher sem amarras seria obrigação da CBF.

O assunto é velho, e ninguém faz nada. A CBF tem distribuído um lindo discurso de mudança – não é para menos depois de seis anos de denúncias, renúncias, prisões e suspensões. Veremos se em 2019 os clubes vão continuar desfalcados em decisões. Todos cúmplices, vale repetir.

Vítima mesmo é o torcedor.

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