sábado, 29 de setembro de 2018

Após sonho de conhecer Guga Kuerten, tenistas sofrem com falta de apoio para tocar projeto

Jovens tenistas de Camocim de São Félix, no agreste de Pernambuco, receberam apoio moral por superação em tocar o esporte sem apoio, mas seguem com as mesmas (e outras) dificuldades para jogar

Quando entraram na quadra central do Rio Open, os tenistas Lailson Lucena, Felipe Lucena e Diego Lucena imaginaram que, enfim, teriam o trabalho reconhecido. Naturais de Camocim de São Felix, agreste pernambucano, os três foram levados para o maior evento do tênis, na América do Sul, pela superação que mostraram na cidade natal, onde utilizavam uma quadra sem qualquer estrutura e aulas online para aprender e praticar o esporte (relembre no vídeo). No Rio de Janeiro, além de conhecer o ídolo Gustavo Kuerten, receberam várias promessas de incentivo e apoio. Sete meses depois, porém, o cenário é bem diferente do imaginado pelo trio.

A quadra usada para iniciar a prática do tênis, atualmente está impraticável. O mato, que cercava o local agora está mais alto, mas esse não é o maior problema. A estrutura, que serviria de base para uma possível cobertura, está tomada por ferrugem e corre o risco de desabar a qualquer momento. A solução parecia ser um espaço construído na zona rural de Camocim. No entanto, a quadra, que tem boa estrutura, é "dominada" pelo futsal. Com isso, resta aos três treinar em um horário nada convidativo: às 12h. Período onde o sol, costumeiramente, beira os 40 graus.



O cenário traz sentimentos mistos. De um lado, o orgulho e a felicidade por ter conhecido ídolos. Do outro, a frustração por não ver as promessas se materializarem na realidade.

- Foi uma repercussão enorme na cidade. Foi prometido o quê? Lançar o projeto para que fosse construída uma quadra em algum dos territórios de Camocim. Só que até hoje, nada. A gente já treinou em Camocim, mas não dava mais, porque tinha outro pessoal lá que era bem pesado. Aí viemos para a comunidade e a gente está em horários alternativos. A gente só queria um espaço que fosse único do tênis para poder tocar um projeto. Trazer a criançada para praticar, descobrir um novo Guga, que a gente fez uma promessa para ele. Dessa forma que está fica praticamente impossível - disse Felipe Lucena, citando o pedido feito por Gustavo Kuerten, que desafiou o trio a se encontrarem no futuro, quando a cidade do agreste tivesse trabalho sólido no "garimpo" de tenistas.



Das promessas feitas por diversas pessoas após a ida ao Rio Open, alguns materiais até foram enviados para os meninos: cerca de 200 bolas, algumas raquetes e uma rede nova. E só. Objetos que ficam guardados na casa de Lailson, justamente por não ter um local com condições de trabalhar com jovens que tenham interesse em treinar.
"Está complicado agora. A gente tem que tentar a sorte de chegar aqui e ver a quadra disponível. Sempre que chega está o pessoal do futsal e não tem como jogar. Sempre futsal. Tênis a gente joga em horários de pico. Meio dia, à noite raramente. Tem dia que a gente está com vontade de vir e tem que vir a pé. É a única saída. É triste. Lamentável", desabafou Lailson.

As dificuldades, porém, dificilmente farão com que os três desistam de construir um centro de treinamento para que os jovens da região possam se inserir no esporte.
"Vamos em frente. Não tem como a gente desistir agora. Estamos enfrentando dificuldades, mas uma hora as coisas vão melhorar. Nosso sonho é trabalhar com crianças da região e poder dar uma oportunidade melhor para os meninos. A gente aprendeu pela internet e queremos repassar um pouco de conhecimento que temos. Essa é a nossa vontade", completou Lailson.

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